Vivemos em um mundo de desconhecidos. Todos nós estamos conectados pelo laço mais tênue possível, um fio de eletricidade, por onde passam zilhões de mensagens, posts e likes, por dia. Nesse mundo cibernético e automatizado, ser solteiro é um desafio antropológico.
Das minhas desventuras em série dos últimos tempos, percebo que, ou o mundo está sem graça mesmo ou eu é que estou muito exigente. As pessoas parecem estar em um desinteresse mútuo, todas muito preocupadas com suas rotinas e compromissos. Parece não haver tempo pra uma conversa a toa e despretensiosa. O egoísmo fala mais alto, sempre.
O olho-no-olho e o respeito estão tão banalizados que quando alguém é gentil a gente até se assusta de tão raro que essas atitudes aparecem no dia a dia.
Em um mundo de Tinder e Happen, em que mulheres e homens são como copos descartáveis, aqueles que só são usados momentaneamente e, quando não mais úteis, são jogados fora, nos reduzimos a uma meia dúzia de fotos em um aplicativo que basicamente seleciona com quem você vai transar hoje.
Não há mais os entreolhares, a sensação gostosa de ter alguém por perto, a naturalidade de ser você mesmo. Parece que as pessoas se escondem dentro delas mesmas, dentro de suas inseguranças, se fechando em seus casulos com a porta praticamente fechada. Daí, quando um visitante almeja entrar, é raro que ele seja bem-vindo. Talvez só seja por determinado tempo, para satisfazer necessidades pontuais. Não há chance dele ser um morador, de ser um visitante permanente.
Na metáfora da vida, é raro, ouso dizer - praticamente impossível - que as pessoas finalmente se libertem de seus casulos e alçem voos muito maiores, que as façam colocar à prova seus sentimentos. É muito mais fácil e cômodo, permanecer no lado seguro, que as proteja de descobrir o outro, porque o outro é o desconhecido e, por mais ele seja instigante, é incerto, é duvidoso. E muitas pessoas não se arriscariam a conhecê-los verdadeiramente e por inteiro.
É possível encontrar ordem no caos de sentimentos internos. Quando nos deparamos com o desconhecido, esse caos tão habitual é ameaçado. Mas os rótulos ajudam a colocar o desconhecido em uma caixinha já classificada. E o possível (des)encanto do novo se perde no mar de ideias pré concebidas. Tudo se passou como nada se passasse.
ResponderExcluir