terça-feira, 24 de outubro de 2017

Pela alçada de voos maiores

Vivemos em um mundo de desconhecidos. Todos nós estamos conectados pelo laço mais tênue possível, um fio de eletricidade, por onde passam zilhões de mensagens, posts e likes, por dia. Nesse mundo cibernético e automatizado, ser solteiro é um desafio antropológico.

Das minhas desventuras em série dos últimos tempos, percebo que, ou o mundo está sem graça mesmo ou eu é que estou muito exigente. As pessoas parecem estar em um desinteresse mútuo, todas muito preocupadas com suas rotinas e compromissos. Parece não haver tempo pra uma conversa a toa e despretensiosa. O egoísmo fala mais alto, sempre.

O olho-no-olho e o respeito estão tão banalizados que quando alguém é gentil a gente até se assusta de tão raro que essas atitudes aparecem no dia a dia.

Em um mundo de Tinder e Happen, em que mulheres e homens são como copos descartáveis, aqueles que só são usados momentaneamente e, quando não mais úteis, são jogados fora, nos reduzimos a uma meia dúzia de fotos em um aplicativo que basicamente seleciona com quem você vai transar hoje.

Não há mais os entreolhares, a sensação gostosa de ter alguém por perto, a naturalidade de ser você mesmo. Parece que as pessoas se escondem dentro delas mesmas, dentro de suas inseguranças, se fechando em seus casulos com a porta praticamente fechada. Daí, quando um visitante almeja entrar, é raro que ele seja bem-vindo. Talvez só seja por determinado tempo, para satisfazer necessidades pontuais. Não há chance dele ser um morador, de ser um visitante permanente.

Na metáfora da vida, é raro, ouso dizer - praticamente impossível - que as pessoas finalmente se libertem de seus casulos e alçem voos muito maiores, que as façam colocar à prova seus sentimentos. É muito mais fácil e cômodo, permanecer no lado seguro, que as proteja de descobrir o outro, porque o outro é o desconhecido e, por mais ele seja instigante, é incerto, é duvidoso. E muitas pessoas não se arriscariam a conhecê-los verdadeiramente e por inteiro.

terça-feira, 9 de maio de 2017

A sabotagem do sentir no mundo contemporâneo

Hoje li um texto que me fez muito refletir sobre as relações atuais. Em um mundo cada vez mais automatizado, as relações já nem são mais líquidas, como profetizadas por Bauman, elas já estão gasosas de tão superficiais e indiferentes. A geração y, do desinteresse, parece estar muito mais preocupada em ser egoísta consigo mesma, que não mais se permite sentir. E não falo de se jogar em um relacionamento sério, mas deixar que as coisas simplesmente aconteçam, sem medo do novo, sem medo do incerto.

As pessoas costumam e gostam de rotular institutos como forma de se sentirem seguras naquilo, como se fosse uma válvula de escape. Explico. Há dois extremos bem demarcados: as pessoas fantasiam e moldam um tipo de relacionamento em suas cabeças e vivem à espera de alguém que sequer existe ou são aquelas anti-namoros, que não concebem a ideia de ter alguém do lado, ou melhor, refutam qualquer tipo de aproximação mais íntima.

O quadro é o seguinte: boate cheia, 02 da manhã. Típico cenário de qualquer final de semana para jovens adultos, principalmente os solteiros. Como o bom e velho patriarcado manda, o cara chega na moça e eles dão lá seus 2, 3, enfim 10 beijos noite afora. A partir daí, há duas possibilidades: ou o menino pede o celular dela ou os dois jamais se verão novamente. se a resposta for positiva, os dois podem começar a trocar mensagens e se o acaso magicamente corroborar, eles marcam um encontro. Conversa vai e vem, os dois parecem ter gostos parecidos, uma aparente sintonia vai se mostrando. Mas aquele questionamento recorrente vem à tona: será que se eu falar demais com ela, ela vai achar que eu quero namorar? será que se eu transar com ele no primeiro encontro ele não vai me valorizar mais? O joguinho do desinteresse se instala e há praticamente uma competição pra ver quem sai mais por cima da situação. O medo do outro esperar de mais ou de menos parece muito mais forte do que você simplesmente ser o que você é, sem medo do outro aprovar ou não.

Conclusão da história: os dois não mais se encontram; a conversa que era animada, esfria; aquela oportunidade de você conhecer alguém bacana, sem esperar nada além disso, vai por água abaixo, pelo simples fato das pessoas ao invés de naturalmente deixarem as coisas seguirem seu rumo, ficarem presas em suas próprias inseguranças, não arriscando ir mais a fundo e adentrar o íntimo de alguém. Assim, elas se escondem em outras pessoas igualmente superficiais que não esperam nada além de um sexo casual ruim em um sábado à noite.