domingo, 3 de fevereiro de 2019

Tropi(caos)

purgatório da beleza,
mas não seria do caos?
muita gente, gente luta
luta é diária, dia-a-dia,
cada vez mais,
matam, roubam, estupram
bebem nossas fontes mais preciosas
preciosismo da ganância
ânsia do capital
ao menos existe gente
GENTE!
do coração quente
pra inflamar novos corações
incansáveis
inabaláveis
imbatíveis,
para re(existir).

sábado, 1 de dezembro de 2018

Tetas à tapa: a hipersexualização do corpo da mulher

A capa de dezembro da revista Marie Claire foi estrelada pela atriz global Leticia Colin, sob o tema "Meu Corpo, Minhas Regras". No entanto, a foto veiculada na capa e divulgada nas redes sociais foi censurada pelo Instagram sob a alegação de que: "removemos sua publicação porque ela não cumpre nossas Community Guidelines em nudez ou pornografia. Se você infringir nossas diretrizes mais uma vez, sua conta será restrita ou desativada (...) removemos algumas fotos de mamilos femininos, mas fotos de cicatrizes de mastectomia e mulheres amamentando são permitidas". 

A posição tomada pelo Instagram é metonímia da função específica de divulgação do corpo feminino e seus limites e nuances, na medida em que é considerada natural e até bonita a disseminação de imagens de mulheres amamentando seus filhos ou então demonstrando a batalha cotidiana contra o câncer de mama, mas, em um editorial de moda, a mostra dos seios femininos é colocada como repugnante e uma afronta à moral e os bons costumes, sendo comparada à pornografia. 

O que choca e revolta é que quando algumas partes do corpo das mulheres são veiculadas sob um tom de feminilidade, de amabilidade, como em fotos de amamentação de bebês, a receptividade é clara. É colocada a imagem da mulher maternal e doce, cumprindo seu papel social de mãe, esposa e dona de casa. Nesse mesmo raciocínio, a disseminação de fotos de mulheres que sofreram a mastectomia demonstra a concentração de forças para a prevenção do câncer de mama, uma das doenças que mais mata mulheres no mundo. Em nenhum desses casos, a foto dessas mulheres são sexualizadas, mas, pelo contrário, vista com bons olhos e de acordo com o padrão natural de condição do papel da mulher sob o olhar da sociedade patriarcal. 

Por outro lado, quando é veiculada a imagem de uma mulher com os seios à mostra, com claro objetivo de manifesto e protesto, esta é hipersexualizada e incomoda tanto que a mídia tenta escondê-la, quase que numa tentativa de impedir que tal "afronta" à sociedade possa ser disseminada. A partir daí, entra-se no lugar-comum de que a mulher "deve-se dar o respeito" e "se guardar", de forma a não incitar vontades e desejos masculinos. 

Com isso, remontamos ao ponto de partida inicial para reflexão: por que os homens podem andar sem camisa e as mulheres não? Qual a condição feminina necessária para que as mulheres ganhem a emancipação de seus corpos, de forma a utilizá-los como bem quiserem, atribuição essa exclusivamente destinada aos sexo masculino? Por que choca tanto a veiculação de imagens de partes do corpo feminino utilizadas essencialmente para exaltar seus corpos?

Uma das respostas possíveis é que a sexualidade feminina só é bem aceita quando é exercida em função do homem e para o homem, quando assim este a desejar. Quando não lhe for interessante, ou quando isso incidir em um debate sobre gênero e papeis sociais desempenhados, a imagem é deturpada, omitida, proibida. 

Leticia Colin foi extremamente corajosa por se doar e colocar literalmente as tetas à tapa, juntamente com a chefia editorial da Marie Claire, para debater um pouco mais o corpo da mulher e ressignificá-lo, de forma a convidar às pessoas ao debate sobre gênero, sexualidade e sexualização de corpos e a luta incansável para desconstruir padrões e práticas machistas e patriarcais como essa. 


sábado, 31 de março de 2018

Um dia, moço

Um dia um moço me relembrou o calor de um abraço de amor, me fez suspirar de novo, como há muito não fazia; me fez querer fazer planos com ele e a querer me reinventar de novo;

Um dia um moço me fez enxergar que dar dois passos pra trás às vezes deixa a caminhada mais leve e tranquila do que qualquer passo mais apressado;

Um dia um moço me fez ser ainda mais livre, me deixou voar por aí porque sabia que ao final do dia ele teria minhas asas nas dele;

Um dia um moço me fez acreditar no agora, no instante presente, no que somos capazes de ser e mudar, ao pouquinhos, mas sempre seguindo em frente;

Um dia um moço acreditou e investiu em mim, falou que eu era grande, forte e sempre estaria lá pra me lembrar disso;

Um dia um moço me pegou com ternura e carícias, falando baixinho no ouvido confidências e segredos;

Um dia um moço me aninhou em seus braços, me fitou com um olhar apaixonado e pousou delicadamente nos meus lábios;

Um dia um moço me relembrou o que é amar e ser amada;

- Mas só um dia, moço?

- Quem sabe, sempre?

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Pela alçada de voos maiores

Vivemos em um mundo de desconhecidos. Todos nós estamos conectados pelo laço mais tênue possível, um fio de eletricidade, por onde passam zilhões de mensagens, posts e likes, por dia. Nesse mundo cibernético e automatizado, ser solteiro é um desafio antropológico.

Das minhas desventuras em série dos últimos tempos, percebo que, ou o mundo está sem graça mesmo ou eu é que estou muito exigente. As pessoas parecem estar em um desinteresse mútuo, todas muito preocupadas com suas rotinas e compromissos. Parece não haver tempo pra uma conversa a toa e despretensiosa. O egoísmo fala mais alto, sempre.

O olho-no-olho e o respeito estão tão banalizados que quando alguém é gentil a gente até se assusta de tão raro que essas atitudes aparecem no dia a dia.

Em um mundo de Tinder e Happen, em que mulheres e homens são como copos descartáveis, aqueles que só são usados momentaneamente e, quando não mais úteis, são jogados fora, nos reduzimos a uma meia dúzia de fotos em um aplicativo que basicamente seleciona com quem você vai transar hoje.

Não há mais os entreolhares, a sensação gostosa de ter alguém por perto, a naturalidade de ser você mesmo. Parece que as pessoas se escondem dentro delas mesmas, dentro de suas inseguranças, se fechando em seus casulos com a porta praticamente fechada. Daí, quando um visitante almeja entrar, é raro que ele seja bem-vindo. Talvez só seja por determinado tempo, para satisfazer necessidades pontuais. Não há chance dele ser um morador, de ser um visitante permanente.

Na metáfora da vida, é raro, ouso dizer - praticamente impossível - que as pessoas finalmente se libertem de seus casulos e alçem voos muito maiores, que as façam colocar à prova seus sentimentos. É muito mais fácil e cômodo, permanecer no lado seguro, que as proteja de descobrir o outro, porque o outro é o desconhecido e, por mais ele seja instigante, é incerto, é duvidoso. E muitas pessoas não se arriscariam a conhecê-los verdadeiramente e por inteiro.

terça-feira, 9 de maio de 2017

A sabotagem do sentir no mundo contemporâneo

Hoje li um texto que me fez muito refletir sobre as relações atuais. Em um mundo cada vez mais automatizado, as relações já nem são mais líquidas, como profetizadas por Bauman, elas já estão gasosas de tão superficiais e indiferentes. A geração y, do desinteresse, parece estar muito mais preocupada em ser egoísta consigo mesma, que não mais se permite sentir. E não falo de se jogar em um relacionamento sério, mas deixar que as coisas simplesmente aconteçam, sem medo do novo, sem medo do incerto.

As pessoas costumam e gostam de rotular institutos como forma de se sentirem seguras naquilo, como se fosse uma válvula de escape. Explico. Há dois extremos bem demarcados: as pessoas fantasiam e moldam um tipo de relacionamento em suas cabeças e vivem à espera de alguém que sequer existe ou são aquelas anti-namoros, que não concebem a ideia de ter alguém do lado, ou melhor, refutam qualquer tipo de aproximação mais íntima.

O quadro é o seguinte: boate cheia, 02 da manhã. Típico cenário de qualquer final de semana para jovens adultos, principalmente os solteiros. Como o bom e velho patriarcado manda, o cara chega na moça e eles dão lá seus 2, 3, enfim 10 beijos noite afora. A partir daí, há duas possibilidades: ou o menino pede o celular dela ou os dois jamais se verão novamente. se a resposta for positiva, os dois podem começar a trocar mensagens e se o acaso magicamente corroborar, eles marcam um encontro. Conversa vai e vem, os dois parecem ter gostos parecidos, uma aparente sintonia vai se mostrando. Mas aquele questionamento recorrente vem à tona: será que se eu falar demais com ela, ela vai achar que eu quero namorar? será que se eu transar com ele no primeiro encontro ele não vai me valorizar mais? O joguinho do desinteresse se instala e há praticamente uma competição pra ver quem sai mais por cima da situação. O medo do outro esperar de mais ou de menos parece muito mais forte do que você simplesmente ser o que você é, sem medo do outro aprovar ou não.

Conclusão da história: os dois não mais se encontram; a conversa que era animada, esfria; aquela oportunidade de você conhecer alguém bacana, sem esperar nada além disso, vai por água abaixo, pelo simples fato das pessoas ao invés de naturalmente deixarem as coisas seguirem seu rumo, ficarem presas em suas próprias inseguranças, não arriscando ir mais a fundo e adentrar o íntimo de alguém. Assim, elas se escondem em outras pessoas igualmente superficiais que não esperam nada além de um sexo casual ruim em um sábado à noite.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Liquidez da vida

O mundo hoje clama pelo desapego emocional. Me pergunto onde essa nossa modernidade líquida vai nos levar. Cada vez mais observo nas pessoas um vazio tremendo que parece nunca ser preenchido. As relações humanas estão esvaziadas. De amor. De afeto. De carinho. Daquele abraço sincero. Do ombro amigo.

O facebook parece ser o vínculo, o elo das relações humanas. O mais triste é acharmos isso natural. Já foi-se o tempo daquelas horas a fio no telefone, das cartinhas, do telegrama e até do email! A globalização encurtou as distâncias e facilitou a comunicação, mas a que preço? O que eu vejo, atualmente, é a pressa. Pressa das próprias pessoas se comunicarem. O mundo anda tão voraz que mal temos tempo para nos encontrarmos. E quando esse encontro acontece ele é frio, sem tesão, sem vontade.

Vejo uma banalização tremenda do amor e do respeito. Não trocamos mais nossos olhares apaixonados, não andamos mais de mãos dadas, não estamos dispostos a compartilhar sonhos e problemas. Aparentemente todo o nosso foco é voltado para nós mesmos, sem olhar para o próximo. Somos cada vez mais egoístas e mesquinhos. Agora é olho por olho, dente por dente. Nossas relações possuem um peso enorme e muita cobrança. Não reconhecemos mais os gestos do próximo. Clamamos por independência, mas precisamos reconhecer que precisamos do outro, precisamos do brilho nos olhos, de uma afago de vó, do beijo apaixonado, daquela mãozinha pra seguir adiante. Parece que perdemos o tato, o jeito de amar, de compartilhar medos e fazer planos. Parece que as pessoas sentem um certo receio de confiar, de partilhar problemas e reconhecer a necessidade de ter o outro. Já dizia Tom Jobim: fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho.

Hoje em dia vivemos em um cruel paradoxo: ou somos cada vez mais emocionalmente dependentes do outro, o que nos prende, nos limita; ou queremos a liberdade de ser, de amar, de ir. O mundo me parece estar em uma constante superficialidade. E ela só cresce. Me pergunto aonde esses amores líquidos nos levarão.

Proponho um regaste aos velhos tempos com o sentimento de liberdade de hoje. Explico. Na época dos nossos avós os sentimentos me pareciam mais intensos e verdadeiros. Não tínhamos a internet e as redes sociais para nos comunicarmos. Era olho no olho, conversas horas a fio na janela. Tudo era muito mais singelo e simples. Hoje parece que complicamos demais as relações humanas de uma maneira que as tornam pesadas. Deveríamos utilizar nossa liberdade não como uma forma de conseguirmos nossa independência a qualquer custo, mas como uma maneira de não estarmos psicologicamente dependentes do outro,

Que amemos muito, verdadeira e intensamente, não tendo receio de embarcar em um voo conjunto, preenchido de mil desafios e planos, mas que saibamos utilizar a nossa independência para termos o nosso próprio voo solo.

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segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Quebra-cabeça

A gente costumava se completar, nós éramos aquele casal meio louco mas que se encaixava de alguma maneira, como as peças de um quebra-cabeça. Uma maneira única e só nossa. Tínhamos uma conexão quase ininteligível, densa, talvez pelo fato de nos conhecermos tanto e há tanto tempo. Hoje eu me pergunto o porquê disso tudo. Talvez lá na frente essa minha visão embaçada me permita ver além, me permita entender. Talvez não. Tudo é tão obscuro na minha mente, tudo parece tão fugaz, tão superficial frente a tudo que vivi. A frieza na pele compensa pelo coração gigante. Talvez você não tivesse percebido isso a tempo. Talvez meus sinais não tenham sido captados na mesma velocidade de antes. Erro meu e seu? Acho que não. Algumas coisas na vida simplesmente acontecem e temos que aceitar. A maturidade talvez me ensine isso. Agora eu sou só sentimento, desafiando a racionalidade capricorniana. Acho que minha ascendência em peixes aflora nessas horas. Essas linhas me parecem um pouco tortuosas. Escrevo talvez para me libertar, não de sentimentos ruins, mas do passado. Acredito que tudo o que vivemos e passamos acontece por algum motivo, que muitas vezes é desconhecido por nós. Não conhecemos as pessoas por acaso. Cada um que cruzamos nos provoca algo e é incrível os laços que podemos criar com eles. Alguns são desfeitos, outros reforçados. Alguns se afastam, outros vem lá do passado para preencher o nosso futuro. Nunca saberemos. Esse é o lado mais bonito e cruel da vida: não saberemos o que se passará. Nesses (des)encontros da vida a gente aprende e evolui. Às vezes procuramos o nosso eu no outro, outras, procuramos o outro em outros corpos. Nunca acharemos. Dói, dói demais acordar e perceber a ausência, a distância, aqueles planos que não se concretizarão que eu construía na cabeça. Você me dizia que eu planejava demais as coisas, e é bem verdade. Fazia planos porque eu acreditava em um futuro compartilhado, talvez você não. Respeito isso, respeito tua liberdade. Talvez você não estivesse mais vivendo do jeito que queria comigo...talvez você precisasse de uma peça nova do quebra-cabeças para se preencher. Hoje eu sou só dúvidas e indagações, tal qual essas linhas. Acho que nem você pode me dar essas respostas. Quem sabe o tempo possa..
Nesse brainstorming interno, vou me jogando nesse mundo com a intensidade de sempre, aprendendo todos os dias, me encontrando e me perdendo de mim mesma para sempre crescer com meus erros. Doloroso é achar que talvez agora falte uma peça importantíssima nesse quebra cabeça da vida, mas que ele será preenchido, em algum momento e será finalmente completo.